Quando uma Criança deve ir ao Psiquiatra

Um dos principais equívocos ao se definir quando uma criança deve ir ao psiquiatra é a de que a criança possui um transtorno mental grave e que necessitará de uso de medicação.

Certamente que crianças e adolescentes que apresentam algum transtorno mental grave como esquizofrenia, transtorno bipolar do humor ou transtorno do espectro autista nível 3 de gravidade deverão ter o acompanhamento próximo de um psiquiatra da infância e adolescência, sendo que na grande maioria das vezes necessitará de um ou mais medicamentos, além de outras intervenções da equipe multidisciplinar.

Mas situações mais simples que envolvam problemas emocionais e comportamentais também podem apresentar a indicação de uma avaliação de um psiquiatra.

A avaliação psiquiátrica tem como objetivos averiguar quais fatores estão influenciando o estado emocional  e desenvolvimento das crianças e adolescentes, verificando se os sintomas apresentados acarretam prejuízo em seu funcionamento ou trazem sofrimento significativo a ponto de serem considerados um transtorno mental.

As principais indicações para essa avaliação são:

  1. Alterações de comportamento, como hiperatividade, impulsividade e agressividade
  2. Alterações do desenvolvimento neuropsicomotor, cognitivo ou emocional
  3. Dificuldades escolares
  4. Oscilações de humor
  5. Ansiedades e medos
  6. Dificuldades de relacionamento com os pares
  7. Alterações no padrão de sono e alimentação

Papel do Psiquiatra na Avaliação e Integração Médica

O psiquiatra da infância e adolescência é o médico da equipe multidisciplinar que se especializou no atendimento de crianças e adolescentes e por essa razão capaz de avaliar essas e outras queixas dentro de um contexto que considere os aspectos do desenvolvimento da criança, seu meio social, familiar e cultural. Além disso, ele traz a visão médica para o caso fazendo a inter-relação com outras especialidades médicas como a pediatria, hebiatria e neuropediatra, entre outras. A partir de uma avaliação detalhadas poderá definir se essas alterações fazem parte de um transtorno mental, podendo definir o diagnóstico, além do diagnóstico de comorbidades e diagnósticos diferenciais. É muito importante se definir um diagnóstico porque a partir daí é possível a melhor descrição do quadro, podendo haver trocas entre os profissionais que acompanham a criança, definir o prognóstico e os tratamentos a serem realizados, buscar fatores etiológicos como síndromes genéticas, fatores de risco familiar, definir o melhor tratamento clínico e multidisciplinar a ser realizado e avaliar longitudinalmente a evolução do quadro, podendo-se rever esse diagnóstico ao longo dos anos e a terapêutica a ser realizada.

Importância do Diagnóstico e Tratamento Personalizado

Nem sempre uma criança que seja portadora de algum transtorno mental necessitará de tratamento farmacológico, mas quando esse for necessário deverá ser definido com critérios considerando o benefício que a criança terá com esse tratamento, o esquema medicamentoso a ser realizado, acompanhar efeitos adversos. Por essa razão esse acompanhamento precisa ser realizado de perto, para que o médico possa observar a evolução do caso.

Muitas vezes a criança após passar pelo psiquiatra poderá ser encaminhado para diferentes abordagens que se façam necessárias a partir do diagnóstico definido como o tratamento psicoterápico, fonoaudiólogo, psicopedagógico, terapia psicomotora ou terapia ocupacional. Por essa razão, a comunicação frequente entre o psiquiatra e os demais terapeutas deverá ser realizado com frequência para discussão do caso e de novas estratégias que se façam necessárias.

Envolvimento da Família no Processo

A família também precisará ser contemplada dentro desse processo de avaliação do psiquiatra da infância e adolescência. A criança e o adolescente estão dentro de um contexto familiar que possui uma forma única de funcionamento (ou dinâmica) que termina como elas vão se comportar e se desenvolver. É necessário que o psiquiatra converse com os pais sempre para entender os fatores que o estão preocupando em relação ao seu filho e também como são esses pais, suas crenças e formas de lidar com as situações, pois muitas vezes os filhos refletem a forma de ser dos pais. Por essa razão, frequentemente é necessário que os pais recebam sessões de orientações  através de um processo chamado de psicoeducação que consiste no ensinamento sobre o diagnóstico psiquiátrico que se filho apresenta e quais são suas características, evolução e formas de manejo.

Contribuição do Psiquiatra na Equipe Multidisciplinar

Por fim, é importante salientar que o psiquiatra da infância e adolescência é parte importante da equipe multidisciplinar, contribuindo com a discussão sobre as situações e problemas que afetam crianças e adolescentes em seu desenvolvimento e bem-estar, além de suas famílias.

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