Ansiedade em crianças: transtornos comuns e formas de lidar

Crianças podem apresentar quadros diferentes de ansiedade que merecem atenção e tratamento adequado

Publicado em 22 de fevereiro de 2021

Medo e ansiedade são reações humanas normais e até necessárias, pois são parte de um mecanismo do corpo para identificarmos possíveis situações de ameaças. Existe um complexo processo, que envolve funções cerebrais e hormonais, e possibilita uma reação rápida, podendo levar a um comportamento de luta ou de fuga quando estamos diante de uma situação de perigo real e iminente. Já um transtorno de ansiedade trata-se de uma reação patológica de medo diante de um perigo que não é real ou tem não tem a magnitude interpretada pela pessoa.

Com as crianças não é diferente. Elas tendem a ser naturalmente mais medrosas do que adolescentes e sentem especialmente medo de coisas simples, como de se afastar dos pais e conversar com pessoas estranhas.

No início da nossa vida, dado nosso alto grau de vulnerabilidade, dependência e imaturidade, apresentar reações de medo e ansiedade é muito mais frequente do que quando nos tornamos adultos – e, na medida em que desenvolvemos uma compreensão mais realista do mundo e dos reais perigos, passamos a temer apenas situações de real risco.


Quando se preocupar com a ansiedade em crianças?


Para entender quando o medo é característico de um transtorno de ansiedade em crianças é preciso considerar a faixa etária em que ela está, o seu tempo de duração e os prejuízos e sofrimento associados. Uma criança na faixa de cinco a seis anos que não consegue se afastar dos pais de forma nenhuma, por exemplo, pode apresentar um transtorno chamado de Ansiedade de Separação.

Essa é uma situação esperada em uma criança de dois anos, mas que em uma criança mais velha, que está quase entrando na fase escolar, não é adequada. Este transtorno surge em crianças mais velhas, sendo menos presente em adolescentes e adultos, porém quando atinge idades maiores normalmente segue com outras complicações, como depressão, problemas de relacionamento, de autoestima e dificuldades escolares.

Outro transtorno de ansiedade que pode ocorrer em crianças é o Transtorno de Ansiedade Generalizado (TAG) que se caracteriza por medo e preocupação excessiva com diferentes situações e contextos, como uma briga entre os pais, notas ruins, doenças etc.

Crianças que sofrem de TAG costumam ser tensas, angustiadas e não conseguem relaxar. São também muito perfeccionistas e sensíveis a críticas e rejeição. Podem possuir baixa autoestima e um sentimento crônico de serem incapazes, além de serem muito propensas a apresentarem quadros depressivos.

Há também a fobia social que é um medo exagerado de situações de exposição social e que se diferencia da timidez pela intensidade em que ela ocorre, causando paralisação e esquiva de toda e qualquer possibilidade de se expor. Essas crianças apresentam grande sofrimento visto que há o desejo de fazer amigos e socializar, mas se sentem impossibilitadas de enfrentar essa situação.

Aproximadamente 15% das crianças e adolescentes apresentam algum tipo de transtorno ansioso que exigiria tratamento especializado. As causas da ansiedade infantil são várias, desde fatores genéticos, temperamento infantil e fatores ambientais.

O comportamento dos pais é bastante determinante, tanto na ocorrência dos quadros ansiosos como na intensidade dos sintomas. Pais ansiosos, rígidos, perfeccionistas e com alto nível de cobrança podem gerar inseguranças e medos em crianças que podem evoluir para um transtorno de ansiedade.


Como tratar a ansiedade infantil?


O primeiro ponto é saber diferenciar medos e ansiedades infantis de um transtorno de ansiedade, que necessitaria de um tratamento especializado. Se a criança não se socializa, não vai para à escola ou apresenta fortes reações emocionais todas as vezes que precisa se expor a uma situação que teme, podemos suspeitar de um transtorno de ansiedade. O tratamento psicológico da criança, juntamente com a orientação de pais, é a principal abordagem terapêutica.

Diferentemente dos adultos, as crianças não respondem adequadamente aos tratamentos medicamentosos e não há nível de evidência científica que valide o uso da classe dos antidepressivos ou de benzodiazepínicos nesses casos. Por outro lado, é possível que os pais precisem ser encaminhados para tratamento psicológico e psiquiátrico caso apresentem níveis de ansiedade que justifiquem o transtorno do filho.

Muitas vezes os transtornos de ansiedade em crianças podem se confundir com comportamentos de mimo ou birra, pois toda a vez que a criança está diante de uma situação ansiogênica ela poderá tentar se esquivar, chorar ou se recusar a fazer o que precisa. É importante fazer essa diferenciação, pois expor uma criança a uma situação fóbica ou que gere ansiedade de maneira abrupta poderá causar mais sofrimento e agravamento do quadro.

Por isso é importante buscar atendimento especializado com psiquiatras e psicólogos da infância e adolescência que possam esclarecer e tratar a situação adequadamente.

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