A automutilação ou auto agressão que são feitas de maneira proposital sem a intenção de se matar é um quadro que pode associado a diversos fatores psicológicos e sociais que vem afetando adolescentes ao redor do mundo. Esse tipo de agressão é conhecido como “cutting”, palavra inglesa que significa “coisa cortada” e apesar de ser mais comum na forma de cortes pelo corpo, a auto agressão consiste em qualquer autolesão, como queimar-se, morder-se ou bater-se.
A automutilação possui diferentes motivações ou gatilhos, desde situações agudas de estresse, ansiedade ou problemas de relacionamento, até transtornos psiquiátricos graves como depressão, uso de drogas e transtorno de personalidade.
A incapacidade de lidar com os próprios sentimentos ou a tentativa de se livrar de sentimentos considerados insuportáveis se reflete nas marcas do corpo e esse sofrimento pode inclusive estar associado a uma dificuldade ou situação que o adolescente está passando, por isso, é fundamental olhar para esse sintoma com sensibilidade e seriedade.
O adolescente que se corta está tentando suicídio?
Segundo o DSM 5 (Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais), a automutilação é uma lesão autoinfringida que não está diretamente associada à tentativa de suicídio, mas, que possui estreita relação com diferentes quadros de sofrimento psicológico e depressões. No entanto, comportamento de automutilação aumenta a chance de ocorrer comportamento suicida em algum momento futuro.
Como identificar os fatores de risco para a automutilação do adolescente?
- Relatos sobre vivências de bullying onde o adolescente tem poucos recursos para lidar com tais situações;
- Conflitos familiares em que ele refere não pertencer ou não se sentir parte da família associados;
- Relatos recorrentes de tristeza, sentimento de inadequação e solidão, instabilidade emocional, não consegue falar sobre o assunto, não chora;
- Autodepreciação;
- Vergonha, baixa autoestima, culpa;
- Perda de interesse nas atividades sociais e escolares;
- Agressividade constante;
- Exposição a situações de risco.
O adolescente que se auto agride deixa pistas?
Sinais físicos recorrentes podem estar associados a auto agressão, entre eles, podemos citar:
- Pequenos arranhões que aumentam de frequência;
- Uso de moletons mesmo em dias quentes e inapropriados;
- Pedidos constantes de substituição de apontadores e objetos cortantes de uso escolar;
- Mudanças bruscas de comportamentos;
- Uso de muitas pulseiras e cordões para esconder as lesões;
- Histórias mal contadas sobre as justificativas das lesões.
O que a família poderá fazer para ajudar esses adolescentes?
Adolescentes que se auto agridem desejam relações de proximidade e segurança, mas temem profundamente a rejeição e abandono. Em geral, por não saber o que fazer, a família acaba invalidando as emoções que o adolescente relata. Por isso, é importante permitir que ele fale sobre o assunto.
A comunicação eficaz dentro da família é de extrema importância para que o adolescente se sinta seguro, valorizado e confiante. A família deve ser o apoio emocional e abrir um espaço em que todos se sintam livres para partilhar sentimentos, ideias, dúvidas, preocupações e conquistas. Por isso, a empatia é sempre válida para que os adolescentes se sintam confortáveis para compartilhar como estão se sentindo.
Ao identificar que um(a) filho (a)está se cortando, o primeiro passo é manter a calma ter uma atitude acolhedora para tentar entender de onde parte o comportamento, pois uma reação excessiva pode fazê-lo sentir-se ainda mais sozinho o que poderá agravar ainda mais a sensação de desconforto do adolescente.
Apesar de não necessariamente haver um transtorno psiquiátrico, geralmente há uma tristeza envolvida e uma razão para essa tristeza. A família deve ter muita sensibilidade ao buscar saber o que está se passando com seu (sua) filho(a) e ao tomar consciência da situação do adolescente, os pais devem procurar ajuda profissional.
A importância da psicoterapia e do médico psiquiatra para lidar com a automutilação
Quando há um comportamento ou pensamento autoagressivo de um adolescente, é sinal de que algo não está bem, não só com ele, mas no funcionamento familiar. Assim, perceber que algo está acontecendo e que existe uma possibilidade da família, em conjunto, procurar alternativas para lidar com o problema é uma alternativa para toda a família. Procurar a psicoterapia e a ajuda de médico psiquiatra para apoiar a família é a solução ideal.
Nesse processo, tanto o adolescente quanto os pais, receberão o apoio e a orientação necessária para lidar com as crises de tristeza ou depressão e os episódios de automutilação. É durante a jornada na psicoterapia e no acompanhamento psiquiátrico que o adolescente se sente acolhido, aprende a ressignificar suas dores e entende que não há necessidade para se machucar.
O tratamento com profissionais também ajuda a família a recuperar sua conexão e compreender quais comportamentos são benéficos para serem verdadeiros suportes emocionais uns para os outros.
O processo pode de conscientização e tratamento pode ser demorado, mas é importante buscar ajuda o quanto antes para evitar que o jovem ponha a sua saúde em risco e consiga ter qualidade de vida, investir nas suas relações interpessoais e no seu desenvolvimento psicossocial.