Psiquiatras classificam problema como Transtorno Opositivo Desafiador (TOD). Mas pirraça também pode ser falta de limites
Rio – Toda birra tem um motivo — quer dizer, vários — e, contrariando o pessimismo dos responsáveis, há solução. Para resolver a questão, porém, é necessário saber a causa. A pirraça pode ser desde a pura e simples falta de educação — quando os pais não impõem limites — até o que os manuais de psiquiatria têm classificado como Transtorno Desafiador Opositivo (TDO).
Todas as crianças diagnosticadas com TDO na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, há cerca de dez anos, serão convocadas a retornar à unidade para nova avaliação. De acordo com Fábio Barbirato, coordenador do Serviço de Psiquiatria Infantil, especialistas vão verificar o que aconteceu com os jovens e se algum traço do transtorno permaneceu. Cerca de 480 pessoas devem voltar à Santa Casa, em maio.
“O transtorno existe, mas nos últimos dez anos eu não fiz nenhum diagnóstico. É fácil descobrir um nome para falta de limite da criança”, opina Barbirato. No rol de sinais do TDO estão comportamento desafiador — especialmente com ‘autoridades’, como pais e professores —, desobediência, provocações, baixa tolerância e irritabilidade. O problema afeta mais meninos e um exemplo famoso é o personagem ‘Dênis, o Pimentinha’, sucesso de um filme dos anos 1990.
Além da pirraça
Miguel Angelo Boarati, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, explica que o transtorno ocorre em crianças abaixo dos 9 anos e, normalmente, o comportamento diminui na adolescência. Para ele, prejuízos em âmbitos escolar, social e familiar são um indicativo de que não é apenas pirraça.
“A criança perde o controle no momento de raiva e tem dificuldade em avaliar as consequências do comportamento”.
Para Barbirato, família sem organização e pouca firmeza dos pais na hora de educar são o problema. “Acho que a grande questão é ensinar pais a dizerem ‘não’ e serem firmes”. Além da falta de limites, crianças com autismo, Transtorno Bipolar, depressão e ansiedade também podem apresentar comportamento semelhante ao TDO. “Muita gente aproveita esse transtorno para colocar o foco na criança e desconsiderar a realidade dos pais e da família”, diz Barbirato.
Pais e criança têm de fazer psicoterapia
Por ser um transtorno, com comportamentos característicos também de outros males psicopatológicos, o TDO só pode ser diagnosticado por um psiquiatra. Segundo Barbirato, o profissional, além de ouvir a criança, precisa entender a dinâmica familiar.
O tratamento é a psicoterapia, associada à Terapia Familiar e ao Treino de Habilidades Parentais, em que os pais recebem orientações para lidar com o comportamento dos filhos. Medicamentos são usados apenas se a criança tiver outros transtornos, como bipolaridade. “Quando há ação ativa da família, com os pais mais presentes, a criança tem uma melhora considerável”, diz Barbirato.
Além de pais permissivos, Miguel lembra que o oposto também pode causar o TDO: responsáveis rígidos demais. Isso porque, durante o processo de amadurecimento, a criança vai entender que tudo é proibido, sem equilíbrio entre o certo e errado. “Consequentemente, ela passa a enfrentar toda forma de autoridade”, explica o psiquiatra.