Rio – Para uns, a pilha nunca acaba. Já outros são isolados, de poucas palavras. Há ainda os que sofrem com medos e ansiedade. Os sinais indicam que estas crianças têm transtornos psiquiátricos, certo? Nem sempre. Embora 10% das pessoas de até 6 anos realmente tenham algum problema, em muitos casos estes comportamentos são apenas características da faixa etária. Um olhar atento dos pais e ajuda profissional diferenciam o patológico do normal.
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Prejuízo é o segredo para diferenciar ‘coisa de criança’ de doença. “Assim como há a curva de crescimento físico para crianças, há a curva do comportamento. Para ser patologia, deve haver algum campo prejudicado, como aprendizado ou convívio social”, aponta o psiquiatra Fábio Barbirato, chefe do serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Santa Casa de Misericórdia.
O especialista diz que birra não é patologia, mas uma atitude adotada para alcançar o próprio espaço. “Quando impomos limites, a criança fica contida. Os pais não podem ceder”.
Os transtornos mais comuns em pré-escolares (até 6 anos) são autismo, transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), ansiedade e depressão. De acordo com Barbirato, a agressividade pode ser sinal tanto de problemas físicos (virose, uso de medicamentos), como de lesões no cérebro, bipolaridade e autismo. E o principal: falta de limite dado pelos pais.
Francisco Assumpção, psiquiatra e professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo alerta que pais negligentes e agressivos, além de escolas muito exigentes, podem agravar as consequências do transtorno. “Não estar apto para a alfabetização aos 4 anos não é transtorno. É preciso respeitar o desenvolvimento da criança e pensar qual serão as consequências da terceirização da educação dos filhos”, declara, acrescentando que as patologias afetam mais os meninos.
Não existe apenas uma explicação para o surgimento dos transtornos. O mal pode estar relacionado à genética, ou a problemas na gravidez, no parto e nos primeiros anos de vida (infecções, contato com álcool e drogas), além de aspectos psicossociais, como traumas.
“São doenças do cérebro e não emocionais apenas, mas que são influenciadas pelo ambiente”, explica Miguel Angelo Boarati, do Instituto de Psiquiatria da USP.
O diagnóstico é feito em várias consultas e com o relato da criança, dos responsáveis e de profissionais da escola. No caso do autismo, o ideal é que seja feito antes dos 3 anos. Depressão e ansiedade são identificadas aos 4, em média, e o TDAH depois dos 5. “Eu peço aos pais para filmarem a criança em vários ambientes . Isso ajuda no diagnóstico”, diz Barbirato. O tratamento inclui terapia, orientação aos pais e medicamentos.
OS PROBLEMAS MAIS COMUNS ATÉ OS 6 ANOS DE IDADE
AUTISMO
Baixa interação com outras pessoas (não olha a mãe quando mama), pouca fala, interesse restrito
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TDAH
Agitação, impulsividade, teimosia, sono agitado, curiosidade extrema, parte motora e linguagem atrasadas. Dificuldade para concluir tarefas
ANSIEDADE
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Medo de se afastar dos pais e de se expressar. Costumam ser vítimas de bullying
DEPRESSÃO
Desânimo e aparência triste. Sintomas físicos, como dor de cabeça, enjoo e febre