Imaturidade emocional dificulta diagnóstico da depressão na infância

Transtorno é o tema da quarta reportagem de série especial do caderno Vida

Os desenhos que ilustram esta e outras reportagens da série Meu Filho Tem um Problema foram feitos pelas crianças e pelos adolescentes que têm suas histórias relatadas Arquivo Pessoal / Divulgação

Engana-se quem pensa que depressão é coisa só de gente grande. Ela também aparece nos pequenos, seja sob a forma de problemas para dormir, dores constantes sem explicação, melancolia ou até excesso de agressividade.

Com uma incidência cada vez maior entre crianças e adolescentes, o transtorno tem despertado a atenção de especialistas, preocupado os pais e colocado as escolas em alerta. 

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Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, a depressão atinge quase 20% da população brasileira – sendo que os índices entre crianças e adolescentes variam de 1% a 5%. Isso significa que ela pode estar atingindo mais de 8 milhões de crianças no país – número que vem aumentando a cada ano.

Especialistas explicam como a depressão se manifesta em crianças e adolescentes:

Associada a fatores que vão desde a predisposição genética (a chance de que os filhos sejam depressivos é quatro vezes maior nas famílias em que pai e mãe apresentam a doença) até a experiência de episódios traumáticos no ambiente familiar, a manifestação é envolta em sutilezas, já que os pequenos não têm a mesma capacidade que os mais velhos de perceber a doença, muito menos de expressá-la.

Conheça os sinais, tratamentos e saiba o que fazer

– A imaturidade emocional e cognitiva não permite, muitas vezes, que a criança nomeie os sentimentos e as emoções que serão fundamentais para o diagnóstico clínico de depressão. Elas não têm clareza de que estão tristes ou desanimadas, percebem apenas que estão com menos capacidade para se divertir, ver os amigos – destaca Miguel Angelo Boarati, psiquiatra da infância e da adolescência e coordenador do ambulatório de transtornos afetivos e do Hospital Dia do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Por isso, explica o especialista, é fundamental que os pais fiquem atentos a mudanças bruscas de comportamento, sejam elas de excitação em excesso, diminuição na vontade de brincar e até baixa no rendimento escolar.

Como muitos desses sintomas podem ser confundidos com birra ou mau humor – típicos da idade -, é preciso verificar o tempo que perduram. Se forem recorrentes e persistirem por mais de duas semanas, talvez seja hora de procurar a ajuda de um profissional.

Pressão de adulto, vida de criança

Os transtornos psicológicos da infância podem ser acionados por diversos gatilhos – como experiências frustrantes que a criança tenha enfrentado e bullying na escola.

O estilo de vida que levamos também pode estar contribuindo, e muito, para o aumento de crianças e adolescentes depressivos, destaca a psicóloga Carolina Schneider Silva, do Hospital da Criança Santo Antônio da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre:

– A exigência da sociedade e dos adultos vem tornando as crianças mais ansiosas. É a pressa para sair de casa, a rotina tomada de compromissos inadiáveis, a pressão de um dia em que tudo precisa dar certo. Tudo isso gera um estresse que pode desencadear um quadro depressivo.

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É o que defende também o psiquiatra Miguel Boarati. Segundo o médico, cobranças excessivas por desempenhos que estão acima das capacidades das crianças, mesmo que sejam temporárias, podem criar a ideia de que elas são menos capazes.

– As expectativas exageradas ou projeções de desejos dos pais podem gerar quadros ansiosos que vêm acompanhados de episódios depressivos – complementa.

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*Zero Hora

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