Crianças normalmente apresentam medo e ansiedade a diferentes situações, principalmente quando são muito pequenas ou quando as situações são novas ou trazem uma carga emocional bastante intensa como uma apresentação de teatro.
Essa situação de medo e ansiedade é normal, fazendo parte do desenvolvimento da criança e na medida em que ela amadurece e desenvolve repertório de enfrentamento de situações que causam ansiedade como ir a lugares novos ou se expor em grupo, essa situação vai ficando para trás.
Entretanto, algumas crianças e adolescentes apresentam níveis de ansiedade e medos que extrapolam padrões razoáveis devido a sua intensidade e também as situações e objetos às quais estaria associado, levando a prejuízos funcionais e sofrimento importante. A esse quadro de ansiedade e medos (também chamado de fobias) é que nos referimos como transtorno de ansiedade.
São diferentes os fatores que determinam a ocorrência de transtornos de ansiedade em crianças e adolescentes, mas os mais importantes são os fatores genéticos, perfil específico de temperamento conhecido como comportamento inibido, ser portador de doenças físicas graves como diabetes e câncer, passar por situações de estresses em casa ou na escola, ter vivências traumáticas durante a infância, baixo repertório socioemocional com dificuldades de socialização e enfrentamento de situações aversivas, etc.
Existem 5 tipos diferentes de transtornos de ansiedade
Existem 5 tipos diferentes de transtornos de ansiedade que podem ocorrer em crianças e adolescentes que apresentam como condição essencial a presença de humor ansioso, medo e dificuldades relacionadas a esses sintomas no dia a dia desses pacientes. O impacto na vida desses indivíduos é muito marcante. É comum que a criança inicie algum tipo de transtorno de ansiedade e evolua para outros tipos ao longo do seu crescimento. É também frequente que essa criança devido às dificuldades impostas pelo transtorno de ansiedade desenvolva comorbidades como depressão, uso de substâncias, problemas acadêmico, enurese e encoprese e transtornos de somatização.
Os tipos e características de cada transtorno de ansiedade é descrito abaixo:
- Ansiedade de Separação – é o primeiro a se desenvolver numa criança que se caracteriza pelo medo excessivo e inadequado de se separar das figuras de referência (normalmente os pais), impedindo-as de conseguir viajar ou estar em outros ambientes sem que os pais estejam presentes. Esse medo e preocupação excessiva surge antes, durante e depois do momento de afastamento e as principais reações emocionais e comportamentais são sintomas físicos com dor de cabeça, de barriga e mal estar, além de reações de birra e choro todas as vezes que ocorre a separação (como por ex., ir para a escola). Essas crianças desenvolvem pensamentos intrusivos de que algo de ruim acontecerá com ela ou com os pais no momento em que eles se afastarem e com isso ela limita possibilidades de interações sociais e de experiências prazerosas e importantes como viagem com a escola ou para a casa dos avós. Essas crianças se tornam inseguras e imaturas.
- Transtorno de ansiedade generalizada caracteriza-se por preocupações e medos exagerados acerca de toda e qualquer situação da vida da criança e adolescente. Eles temem ficar doentes ou morrerem de alguma doença grave, sair de casa, ir mal na escola, que os pais se separem ou que o pai perca o emprego. São crianças tensas que não relaxam e não conseguem se divertir, pois estão o tempo todo preocupadas com algo de ruim que pode acontecer com elas. Não está restrito a apenas uma situação, mas a todas as situações ruins que poderiam acontecer com elas, mesmo que seja muito improvável de acontecer.
- Transtorno de pânico – condição mais comumente presente em crianças que apresentem uma situação de estresse continuo que a deixem em alerta constante. Caracteriza-se pela presença de ataques súbitos de medo e ansiedade que surgem “do nada”, mas que causam extremo desconforto físico e emocional. A sensação que a criança tem é de irá morrer. O coração apresenta aumento da frequência cardíaca, suor frio nas extremidades, falta de ar e sensação de desconforto abdominal. As crises passam a se tornar mais e mais frequentes acontecendo em diferentes locais fazendo com que a criança passe a ter medo de ter novas crises fora de casa e evitando sair de casa e ficar em locais com muitas pessoas. Esse quadro é que chamamos de Agorafobia (medo de locais com muita gente)
- Fobia Social – trata-se do medo exagerado e desproporcional de se expor em ambientes sociais. Não se trata de apenas timidez que é algo comum e facilmente modificável. A fobia social é o medo extremo de se expor em público impactando a sociabilidade e o desempenho acadêmico da criança e adolescente. Por temerem o julgamento social e se sentirem inadequados em público é comum que essas crianças passem a se isolar cada vez mais. O tipo mais intenso de fobia social é quando a criança para de falar em público que é quando ela desenvolve o chamado Mutismo Seletivo.
- Fobia Específica – trata-se do medo exagerado, desproporcional e injustificado de situações e objetos que não ofereceriam perigo real ao indivíduo como medo de lugar fechado, escuro ou animais como gatos, cachorros pequenos ou borboletas. A criança consegue perceber que o medo é exagerado, mas ela não consegue controlar a reação que apresenta todas às vezes que precisa enfrentar a situação aversiva, tornando-se alvo de chacota entre os familiares e amigos. É uma fonte importante de sofrimento, sendo altamente incapacitante.
Como fazer um tratamento
Todos os tipos de transtornos de ansiedade podem evoluir ao longo da vida desde a infância até a vida adulta. Por isso, é muito importante que o seu diagnóstico seja realizado e o tratamento seja implementado desde o início.
A terapia psicológica, principalmente a abordagem cognitivo-comportamental com técnicas de reestruturação cognitiva e dessensiblização promovem melhora gradual dos sintomas permitindo que a criança consiga enfrentar a situação aversiva a partir do desenvolvimento de recursos internos (também chamado repertório comportamental) para lidar com as situações ansiogênicas sempre que elas surgirem.
Em alguns casos específico pode se fazer necessário o uso de tratamento medicamentoso, principalmente em crianças mais velhas e adolescentes que apresentam casos graves e que já estejam em terapia psicológica com resultados parciais.
Orientação aos pais e à escola é sempre muito importante. Por essa razão, a família precisa estar muito próxima no tratamento.