Não existem dados concretos, mas há uma percepção crescente entre terapeutas, psicólogos e sociólogos de que esse tipo de rompimento intencional entre pais e filhos vem crescendo nos países ocidentais. Uma pesquisa britânica dedicada ao distanciamento familiar sugere que o fenômeno atinge uma a cada cinco famílias no Reino Unido.
É claro que esse processo está diretamente ligado a condições sociais, culturais pessoais econômicas e pode variar entre países mais ricos como o citado acima e países mais pobres como o Brasil, no entanto, esse fenômeno também pode ser visto nas famílias do nosso país.
No entanto, em geral, o distanciamento dos filhos em relação aos pais está relacionado a alguns fatores ligados a experiências, valores, saúde mental e o aumento da individualidade.
Independência
O aumento das oportunidades de viver e trabalhar em cidades ou até países diferentes das nossas famílias quando adultos pode também ajudar a facilitar o afastamento com os pais.
Muitos filhos se casam, constituem suas próprias famílias, ganham independência financeira e evoluem como adultos, seguindo o processo natural da vida. Essas questões vão, naturalmente, afastando os filhos e não quer dizer que sejam ruins, só precisam ser compreendidas pelos dois lados.
Experiências do passado e valores individuais
Uma das razões mais comuns para possíveis distanciamentos entre famílias são experiências ruins entre as pessoas envolvidas. Em geral, filhos que sofrem abusos do pai ou da mãe, no passado ou no presente, seja ele emocional, verbal, físico ou sexual.
Também se acredita que disputas de valores estejam cada vez mais presentes. Um estudo publicado pela Universidade de Wisconsin, nos Estados Unidos, demonstrou que desavenças baseadas em valores foram mencionadas por mais de uma a cada três mães de filhos que se distanciaram.
Orientação sexual, questões de gênero, ideologia política e valores religiosos são os principais temas de algumas desavenças que podem influenciar no afastamento entre pais e filhos.
Principalmente quando há falta de respeito de um dos lados. Se o respeito acaba ou se nunca foi claro e real, é inevitável que os laços familiares fiquem frágeis.
Não respeitar as escolhas individuais, seja dos pais em relação aos filhos, como dos filhos em relação aos pais, resulta em desalinhar e desequilibrar qualquer sentimento de paz já nutrido. Com respeito, estabelecem-se laços fortes e duradouros.
Saúde mental
O aumento de uma cultura que estimula o autoconhecimento, o aumento da autoestima e a quebra da dependência emocional, faz com que muitas pessoas tenham mais dificuldades de confiar no próximo, incluindo parentes de gerações anteriores, principalmente, se esses relacionamentos são tóxicos.
A conscientização sobre a importância da saúde mental e sobre como relacionamentos familiares tóxicos ou abusivos podem afetar o nosso bem-estar também impactam diretamente a relação entre pais e filhos e influenciam no distanciamento. Muitas famílias optam pelo afastamento para manter a harmonia dentro do lar e a saúde emocional, visto que é comum que doenças como ansiedade e depressão sejam desencadeadas por um ambiente familiar desestruturado e relações familiares insalubres.
É possível restaurar esse relacionamento?
Na evolução do ciclo familiar seria importante que quando os filhos chegam à idade adulta, todos, tantos os pais, quanto os filhos, já tivessem a compreensão de que a independência é um processo natural, que deve ser encarado de forma saudável e que, inevitavelmente,
vai gerar um afastamento que é considerado natural, necessário e saudável.
Se esse distanciamento gerou mágoas devido a experiências passadas ou atuais, é importante encontrar formas de resolver essas questões de comum acordo entre a família para tentar restaurar esse relacionamento através do diálogo e até mesmo da psicoterapia, lidando com os fatores que interferem diretamente nesse afastamento. O afastamento deve ocorrer por um processo de individualização dos filhos em relação aos pais e não por questões emocionais não resolvidas e mágoas.
A importância do acompanhamento profissional
Quando há um distanciamento ou rompimento total entre pais e filhos, é sinal de que algo não está bem no funcionamento familiar, seja relacionado a experiências passadas, como experiências atuais.
Assim, compreender o problema ou identificar que existe uma possibilidade da família, em conjunto, procurar formas para lidar com o afastamento é uma alternativa para restaurar esse relacionamento.
Procurar o apoio da psicoterapia pode ser a solução ideal, visto que nesse processo, tanto os filhos, quanto os pais, receberão o apoio e a orientação necessária para lidar com os fatores que geraram o distanciamento.
É durante a jornada na psicoterapia e no acompanhamento psiquiátrico que os filhos podem acolher seus pais e os pais podem acolher seus filhos, aprendendo a ressignificar mágoas, compreendendo as diferenças e principalmente, respeitando a individualidade de cada um.
O tratamento com profissionais também ajuda a família a recuperar sua conexão e compreender quais comportamentos são benéficos para serem verdadeiros suportes emocionais uns para os outros.
A família deve ser o apoio emocional e abrir um espaço em que todos se sintam livres para partilhar sentimentos, ideias, dúvidas, preocupações e conquistas. Por isso, a empatia é sempre válida para que o processo de aproximação aconteça e a harmonia volte ao lar.