Mesmo em uma sociedade moderna como a nossa, falar sobre gênero e sexualidade, principalmente na infância, ainda é um assunto que gera tabu para muitas famílias, no entanto, é necessário abordar esse tema desde cedo no contexto familiar para garantir um espaço de respeito a individualidade e expressão da criança, mas para falar mais sobre esse tema, é importante compreender o conceito de gênero e sexualidade.
Na história de vida do ser humano, a sexualidade é constituída por uma construção social definida por marcas culturais impressas mesmo antes da concepção de um bebê. Podemos inferir a questão gênero como a condição social através da qual nós nos identificamos como masculinos e femininos, não é algo natural que está dado, mas é construído social e culturalmente envolvendo um processo de conjunto, marcas que vão sendo inseridas no sujeito.
Cada cultura e em que cada momento histórico tivemos formas distintas para lidar com a sexualidade e questões de gênero. Definir o que é masculino e feminino, os interesses e as características que cada indivíduo tem na relação com a sua sexualidade mudou ao longo dos anos e continuará mudando sempre. Por isso é importante entender que não se trata de algo que é estanque.
Já a sexualidade é a expressão do indivíduo no mundo, e deve ser entendida na totalidade dos seus sentidos, sem que seu conceito alicerce-se a palavra sexo. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), a sexualidade humana é parte integral da personalidade de cada um. É uma necessidade e um aspecto do ser humano que não pode ser separado de outros aspectos da vida.
A sexualidade pode ser definida como a forma que o indivíduo se vê e se portar no mundo. Este conceito está presente desde a maneira como nos vestimos e falamos até o modo que sentimos prazer e como queremos conduzir nossas vidas.
Como abordar questões de gênero e sexualidade com a criança?
É fundamental passar para a criança valores de igualdade e respeito entre os diferentes gêneros, possibilitando que ela brinque naturalmente com as possibilidades relacionadas tanto ao papel de homem como ao da mulher.
Cabe aos pais e pessoas responsáveis pela educação, evitar padronizar os papéis do homem e da mulher. No entanto, os estereótipos podem surgir entre as próprias crianças, presentes no meio em que vivem, ou como reflexo da fase em que a divisão entre meninos e meninas torna-se uma forma de se apropriar da identidade sexual.
A criança somente aceita o outro em suas diferenças, se os adultos com quem convive derem o exemplo. Isso começa pelas diferenças de temperamento, de habilidades e de conhecimentos, até as diferenças de gênero, de etnia e de credo religioso. Tudo isso permeia as relações cotidianas da criança.
O que sai do padrão pré determinado na questão sexual poderá ser o ponto de conflito e sofrimento ao qual a criança terá contato às vezes bem cedo. Por isso é importante que os pais e demais adultos que lidam com crianças comecem a rever conceitos pré-estabelecidos.
Como ensinar as crianças a apoiarem seus colegas que se identificam como LGBTQIA+?
- Combatendo o bullying: se seu filho ou outra criança da sua família perceber que outra criança está sofrendo com comentários e “piadinhas”, ensine a prestar apoio e levar o assunto para os adultos;
- Convidando para o grupo: o colega LGBTQIA+ tem poucos amigos ou não é chamado para as atividades? Fale com seu filho sobre dar o primeiro passo é incluir essa criança ao grupo;
- Prestando atenção ao posicionamento da escola: em alguns casos, mesmo quando as crianças denunciam o bullying, a escola não toma providências para que pessoas LGBTQIA+ se sintam seguras. Nesse caso, cabe aos pais cobrar mudanças por mais inclusão e respeito.
Deve-se estimular na criança:
- Expressão, manifestação e controle progressivo de suas necessidades, desejos e sentimentos em situações cotidianas;
- Iniciativa para resolver pequenos problemas do cotidiano, pedindo ajuda se necessário;
- Identificação progressiva de algumas singularidades próprias e das pessoas com as quais convive no seu cotidiano em situações de interação;
- Participação em situações de brincadeira nas quais as crianças escolham os parceiros, os objetos, os temas, o espaço e as personagens;
- Participação de meninos e meninas igualmente em brincadeiras de futebol, casinha, pular corda, entre outras;
- Valorização do diálogo como uma forma de lidar com os conflitos;
- Participação na realização de pequenas tarefas do cotidiano que envolvam ações de cooperação, solidariedade e ajuda na relação com os outros;
- Respeito às características pessoais relacionadas ao gênero, etnia, peso, estatura, entre outros;
- Respeito e valorização da cultura de seu grupo de origem e de outros grupos;
- Conhecimento, respeito e utilização de algumas regras elementares de convívio social;
- Participação em situações que envolvam a combinação de algumas regras de convivência em grupo e aquelas referentes ao uso dos materiais e do espaço, quando isso for pertinente;
- Valorização dos cuidados com os materiais de uso individual e coletivo;
- Procedimentos relacionados à alimentação e à higiene das mãos, cuidado e limpeza pessoal das várias partes do corpo;
- Utilização adequada dos sanitários;
- Identificação de situações de risco no seu ambiente mais próximo;
- Procedimentos básicos de prevenção a acidentes e autocuidado.
Buscando apoio para lidar com a diversidade de gênero e lutar contra o preconceito
Um acompanhamento profissional também é essencial nesse processo, principalmente no caso das crianças trans. Consulte especialistas como psicólogos, psiquiatras e endocrinologistas, buscando profissionais acolhedores e que respondam suas dúvidas (e as da criança) com paciência, respeito e empatia a individualidade e de cada um.