Os transtornos do humor se caracterizam por alterações importantes no humor, na motricidade e no ritmo biológico. Não se trata de mudanças normais e cotidianas de como estamos nos sentindo, mas alterações profundas e complexas na forma de sentir, pensar e agir. Ele é formado pelo transtorno
depressivo, pelo transtorno bipolar e na infância e adolescência temos também o transtorno da desregulação do humor.
Cada um desses diagnósticos apresentam como características em comum ohumor alterado com forte impacto na qualidade de vida e na capacidade de lidar com situações do cotidiano e realizar tarefas.
A característica de cada um desses diagnósticos já foi discutido anteriormente em outros artigos aqui nesse blog.
A finalidade dessa postagem é falar um pouco sobre os transtornos do humor quando ocorre na infância e adolescência, ressaltando a importância de identificá-los, como lidar com eles e como buscar fontes confiáveis de informação.
Transtorno Depressivo
O transtorno depressivo ou depressão é formado pela depressão maior e a depressão persistente. Elas se diferenciam pela intensidade dos sintomas depressivos e pela duração.
Quando uma criança ou adolescente desenvolve a depressão maior, ela apresenta uma mudança súbita do humor para baixo, apresentando importante tristeza, irritabilidade, perda do interesse em quase tudo o que gostava. Ela tende a se isolar, querer passar a maior parte do seu tempo no quarto, envolvido com atividades alienantes. Ocorre alteração no sono, apetite e na energia. Muitas delas podem começar a pensar em morrer, chegando a planejar como realizar esse intento. A gravidade varia, mas é notável uma mudança no jeito dessa criança ou adolescente se comportar e se relacionar com quem é próximo a ela.
Na escola ocorre uma queda importante no rendimento acadêmico, com piora das notas e recusa em realizar tarefas e trabalhos.
Já a depressão persistente é mais leve, porém mais duradoura e pode ser confundida com mau humor ou traços de personalidade. Até mesmo o paciente não se percebe doente, mas é notável como ele vai restringindo seu repertório de interesses. Nesse caso não ocorre sintomas mais graves como o pensamento suicida, mas o impacto sobre o desenvolvimento é significativo.
Transtorno Bipolar
Já o transtorno bipolar, que se caracteriza com mudanças graves no humor para cima (fase maníaca) ou para baixo (fase depressiva). Quando acometida pelo transtorno bipolar a criança e adolescente apresentará momentos de aumento de energia, comportamento arrogante e arriscado, sensação de bem estar extremo e euforia. Algumas vezes é observado irritabilidade extrema, aumento do pensamento (tanto em quantidade como em velocidade), onde a criança quer fazer várias coisas ao mesmo tempo, não demonstrando cansaço ou a percepção de que eles estão agindo de forma inadequada em casa, na escola ou em qualquer lugar.
Essa fase maníaca alterna com a chamada fase depressiva onde do nada ocorre uma mudança para baixo, com a instalação dos sintomas depressivos.
Em crianças e adolescentes essas mudanças podem ocorrer muito rápido sendo por vezes difícil de ser identificado pelos pais, professores ou profissionais não treinados na avaliação de crianças e adolescentes.
Apesar de ser uma condição mais raramente encontrada nessa faixa etária, esse é um transtorno mais grave e com importante risco de cronificação ao longo da vida.
Transtorno Disruptivo da Desregulação do Humor
A criança e adolescente apresenta irritabilidade crônica e grave, com frequentes explosões de raiva associadas a pequenas situações de frustrações. Muitas pessoas confunde esse diagnóstico com o transtorno bipolar. Entretanto, no transtorno disruptivo da desregulação do humor a criança ou adolescente não apresentará euforia, grandiosidade, aumento de energia, redução da necessidade de sono ou comportamentos de risco como se observa na fase de mania do transtorno bipolar.
Crianças com esse quadro costuma ser mau humoradas ao extremo, intolerantes e se envolverem em problemas pela irritabilidade e explosões de raiva. Com isso ela terá problemas sociais, acadêmicos, familiares e sofrerão muita rejeição.
Como lidar com essas condições
Entender que esses diagnósticos podem ocorrer em crianças e adolescentes, suspeitando que as alterações de humor estão além de mudanças normais e sim são sinais de adoecimento psíquico, buscar a ajuda especializada é uma das mais importantes ações que pais,
familiares e professores podem adotar. Muitas vezes os pais também são portadores de quadros semelhantes, pois os transtornos de humor possuem forte associação com a fatores genéticos.
Porém, situações ambientais de conflitos, estresse, baixo calor parental, negligência e violência podem contribuir para o desenvolvimento do transtorno depressivo ou transtorno bipolar ainda durante a infância e adolescência. A partir da avaliação psiquiátrica e psicológica é que se pode definir o diagnóstico, diferenciando de outras condições e se instituir tratamento adequado que contará com a psicoeducação sobre a doença, terapia psicológica e familiar, intervenção psicopedagógica e tratamento farmacológico (que deverá ser realizado por clínico experiente para se evitar o uso inadequado de certas medicações que possam piorar o quadro).
A formação profissional e a orientação aos pais e professores
Foi considerando a importância de se difundir informações baseadas em estudos científicos atualizados que serão essenciais para o diagnóstico e tratamento multidisciplinar específico que lançamos nesse ano o livro “Transtornos do Humor na infância e Adolescência” pela editora Artmed de minha autoria e da Dra. Lee Fu-I, juntamente com uma equipe multidisciplinar altamente capacitada.
Nesse livro abordamos os aspectos diagnósticos (que é essencial para que se faça um diagnóstico clínico correto), as comorbidades principais que ocorrem simultaneamente aos transtornos do humor e tornam o diagnóstico e tratamento mais desafiadores e as principais abordagens terapêuticas utilizadas (tratamento psicoterápico, orientação familiar, tratamento farmacológico e de neuromodulação e abordagem escolar).
Por se tratar de um quadro psicopatológico grave, relativamente frequente e que apresenta um importante hiato de profissionais especializados é que consideramos que esse livro possa contribuir para que os profissionais, pais e professores possam ter acesso a informações atualizadas e com importante
nível de evidência científica.
Nós, autores do livro, esperamos que esse trabalho que é fruto de muito estudo e pesquisa possa contribuir para divulgar esse tema tão importante